Dentro do universo de blocos de Minecraft, existe um lugar que vai muito além da diversão e da criatividade. A chamada Biblioteca Sem Censura é um servidor especial criado por jornalistas e construtores para driblar a censura imposta por governos autoritários em diferentes partes do mundo.
O projeto foi desenvolvido em 2020 como uma colaboração entre a organização Repórteres Sem Fronteira (RSF), a agência DDB e o grupo BlockWorks, conhecido por suas construções monumentais dentro do jogo. O resultado é uma estrutura grandiosa, feita com mais de 12 milhões de blocos colocados ao longo de três meses de trabalho por uma equipe de 24 pessoas.
Um refúgio virtual para o jornalismo livre
A biblioteca foi pensada para ser um espaço onde jornalistas pudessem compartilhar informações e textos proibidos em seus países, aproveitando o fato de que o Minecraft é permitido em quase todas as nações, inclusive naquelas onde há forte censura à imprensa.
O local abriga mais de 300 livros digitais divididos em 12 setores temáticos, contendo artigos e reportagens traduzidos para o inglês e em seus idiomas originais. Desde sua inauguração, a Biblioteca Sem Censura já foi acessada por mais de 20 milhões de jogadores de 165 países.
Arquitetura simbólica e mensagem poderosa
Logo na entrada, uma escultura de uma mão segurando uma caneta dá as boas-vindas aos visitantes. O monumento simboliza a liberdade de expressão e o poder da palavra frente à repressão. O espaço segue um estilo neoclássico, inspirado nas grandes construções da arquitetura greco-romana, reforçando a ideia de conhecimento e resistência cultural.
Entre os textos preservados no local, estão escritos do jornalista saudita Jamal Khashoggi, assassinado em 2018 por agentes da embaixada da Arábia Saudita na Turquia. Khashoggi era conhecido por suas críticas ao regime do príncipe herdeiro Mohammed Bin Salman, e sua presença na biblioteca reforça o propósito do projeto de manter viva a voz dos jornalistas silenciados.
Minecraft como ferramenta de liberdade
O sucesso da biblioteca só foi possível graças à versatilidade e à popularidade do Minecraft, o jogo mais vendido da história, com mais de 300 milhões de cópias em todo o mundo. Dentro desse universo, é possível construir praticamente qualquer coisa — de cidades inteiras a monumentos históricos — e agora também, um símbolo mundial da liberdade de imprensa.
Mais do que um jogo, o Minecraft prova que pode ser uma plataforma de expressão e resistência, onde a informação encontra abrigo mesmo nas formas mais inesperadas.
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